Microsensores e nanosensores são dispositivos que convertem uma grandeza física, química ou biológica (temperatura, pressão, concentração iônica, glicose, etc.) em um sinal elétrico (tensão, corrente, impedância, frequência). Em termos de escala, costuma-se chamar de microsensores aqueles cujas estruturas ativas têm dimensões típicas entre ~1 µm e 1 mm; nanosensores operam quando uma ou mais dimensões críticas estão abaixo de ~100 nm. A miniaturização não é apenas “tornar menor”: ela altera as leis que governam sensibilidade, ruído, resposta dinâmica e consumo de energia — e é justamente isso que torna micro/nano tão atraentes.
Um efeito central é a relação área/volume. Para uma geometria simples (p. ex., um cubo de aresta L), vale \(\frac{S}{V}=\frac{6}{L}\).
À medida que L diminui, S/V cresce. Em sensores químicos/biológicos, isso implica mais sítios de interação por unidade de volume, aumentando a eficiência de adsorção/reação; em sensores térmicos, menor massa térmica acelera o aquecimento/resfriamento; em sensores mecânicos (p. ex., vigas piezorresistivas), a diminuição da seção aumenta deformações específicas, favorecendo a sensibilidade.
A sensibilidade de um sensor, em termos gerais, é a razão entre a variação do sinal de saída e a variação da grandeza medida:
\[S=\frac{\Delta y}{\Delta x} \quad \big[\text{por exemplo, V/Pa ou }\mu\text{A}/\text{mM}\big].\]
Na prática, o menor sinal útil é limitado pelo ruído. Um limite fundamental para dispositivos eletrônicos é o ruído térmico (Johnson–Nyquist) em um resistor R, medido numa largura de banda B: \[v_{n,\mathrm{rms}}=\sqrt{4k_\mathrm{B}TB R}\],
onde \(k_\mathrm{B})\ é a constante de Boltzmann e T a temperatura absoluta. Uma métrica de desempenho largamente utilizada é o limite de detecção (LOD), aproximado por \(\mathrm{LOD} \approx \frac{3\,\sigma_\text{branco}}{\text{slope}},\)
em que \(\sigma_\text{branco}\) é o desvio-padrão do sinal sem analito (ruído de fundo) e slope é a inclinação da curva de calibração (isto é, a sensibilidade analítica). Miniaturizar ajuda o slope (mais interação por volume) e pode permitir reduzir R e B, mas também pode introduzir outras fontes de ruído flicker 1/f, shot, ruído de interface), exigindo projeto cuidadoso.
O tempo de resposta muitas vezes é controlado por difusão ou transferência de calor/carga. Quando a etapa limitante é difusiva, o tempo característico escala aproximadamente como \(t \sim \frac{L^{2}}{D}\), onde D é o coeficiente de difusão do analito (ou a difusividade térmica em sensores térmicos). Assim, reduzir L de 100 µm para 10 µm reduz t em ~100×, explicando por que micro/nanosensores costumam ser mais rápidos que seus equivalentes macroscópicos.

Há diversas classes de transdução: (i) mecânica (piezorresistiva, piezoelétrica, ressonadores MEMS/NEMS), (ii) elétrica (capacitiva, condutiva, FET-baseada), (iii) térmica (bolômetros, termopares/termopilhas), (iv) óptica (guia de onda, plasmonics, microcavidades), e (v) eletroquímica (potenciométrica, amperométrica, impedimétrica e dispositivos baseados em transistores como ISFET/EGFET). Neste artigo daremos ênfase especial à eletroquímica, pois é nela que a alta área específica e a engenharia de superfícies em micro/nanoescala produzem saltos visíveis em seletividade, rapidez e LOD.
Por fim, um comentário sobre calibração e linearidade: miniaturização pode aumentar histerese, drift e efeitos parasitas de interface (camadas duplas, cargas presas, envenenamento de eletrodo). Técnicas como funcionalização seletiva, guard rings, modulação de frequência (para separar sinal de fundo) e modelos de correção são parte integrante do projeto de micro/nanosensores de alto desempenho.
Classificação e Princípios de Transdução
Microsensores e nanosensores podem ser classificados segundo o princípio de transdução, isto é, a forma como convertem uma grandeza física, química ou biológica em um sinal mensurável. De maneira geral, distinguem-se cinco famílias principais: mecânicos, elétricos, térmicos, ópticos e eletroquímicos. Cada uma apresenta vantagens específicas, mas também limitações decorrentes da física da detecção e da integração com a eletrônica de leitura.
Sensores mecânicos utilizam deformações ou ressonâncias em estruturas microfabricadas (MEMS — Micro-Electro-Mechanical Systems e NEMS — Nano-Electro-Mechanical Systems). Um exemplo clássico é o acelerômetro piezorresistivo, onde a deflexão de uma viga altera a resistência elétrica segundo a lei: \[\frac{\Delta R}{R} = \pi_l \sigma_l + \pi_t \sigma_t\],
em que \(\pi_l\) e \(\pi_t\) são os coeficientes piezorresistivos longitudinal e transversal, e σ as tensões mecânicas. Esses dispositivos são robustos e compatíveis com processos CMOS, mas podem sofrer com histerese mecânica e envelhecimento.
Sensores elétricos exploram variações de capacitância, condutância ou efeito de campo em transistores. Capacitores micrométricos detectam deslocamentos de femtômetros por meio da relação \(C = \epsilon A/d\). Já os nanosensores FET (Field Effect Transistor) detectam adsorção de moléculas na superfície do canal, alterando a densidade de portadores. A grande vantagem está na integração direta com circuitos eletrônicos, embora a seletividade química exija funcionalização da superfície.
Sensores térmicos incluem termopares miniaturizados, termistores e bolômetros. Em escala micro/nano, a massa térmica reduzida resulta em tempos de resposta muito rápidos \(t \sim L^2/\alpha\), sendo α a difusividade térmica). A limitação está no ruído térmico e na dependência do ambiente, exigindo encapsulamento adequado.
Sensores ópticos utilizam microcavidades, guias de onda ou estruturas plasmônicas. A ressonância óptica de uma cavidade pode deslocar-se em função de uma mudança de índice de refração local, conforme: \(\Delta \lambda = \lambda \frac{\Delta n}{n_{\text{eff}}}\),
onde Δn é a variação do índice e \(n_{\text{eff}}\) o índice efetivo do modo óptico. Esses sensores alcançam limites de detecção extremamente baixos, chegando a uma única molécula, mas demandam fontes e detectores ópticos externos.
Por fim, os sensores eletroquímicos constituem uma família crucial, sobretudo em aplicações biomédicas e ambientais. Eles se subdividem em:
- Potenciométricos (medem diferenças de potencial em ausência de corrente significativa).
- Amperométricos (corrente proporcional à concentração de analito).
- Impedimétricos (monitoram variações de impedância interfacial).
- Transistores baseados em efeito de campo (ISFETs e variantes, onde íons ou moléculas modulam a condutância do canal).
Esses sensores serão tratados em seções dedicadas devido à sua relevância prática e à riqueza de fundamentos físico-químicos envolvidos.
Sensores Eletroquímicos: Potenciométricos

Os sensores potenciométricos são talvez os mais antigos e difundidos da eletroquímica. Seu princípio fundamental é a medição da diferença de potencial elétrico entre dois eletrodos, em ausência de corrente significativa. Essa diferença reflete o equilíbrio termodinâmico de íons ou espécies químicas na interface eletrodo/solução, permitindo inferir concentrações de analitos.
O exemplo clássico é o eletrodo íon-seletivo (ISE, Ion-Selective Electrode), como o eletrodo de vidro para pH. Ele possui uma membrana sensível que interage seletivamente com determinados íons (H⁺, Na⁺, K⁺, Ca²⁺, etc.), criando um potencial de junção que pode ser comparado a um eletrodo de referência estável (como Ag/AgCl).
O comportamento de tais sensores é descrito pela equação de Nernst: \[E = E^0 + \frac{RT}{zF} \ln a_{\text{ion}}\]
- E = potencial medido
- \(E^0\) = potencial padrão do eletrodo
- R = constante universal dos gases (8,314 J·mol⁻¹·K⁻¹)
- T = temperatura absoluta (K)
- z = carga do íon em questão
- F = constante de Faraday (96485 C·mol⁻¹)
- \(a_{\text{ion}}\) = atividade do íon na solução
Na prática, a atividade é aproximada pela concentração para soluções diluídas. Para o caso dos íons H⁺, essa equação se traduz diretamente na escala de pH: \[E = E^0 – 0,0591 \cdot \text{pH} \quad \text{(a 25 °C)}\]
Isso mostra que a cada variação de uma unidade de pH, o potencial muda aproximadamente 59 mV.
Vantagens
- Não consomem reagentes nem exigem corrente elétrica significativa.
- Estrutura simples, baixo custo e resposta direta.
- Podem operar continuamente em campo (monitoramento de água, processos industriais, fisiologia).
Limitações
- Seletividade imperfeita: íons interferentes podem alterar o potencial.
- Necessidade de eletrodo de referência estável.
- Deriva do potencial com o tempo, exigindo calibração frequente.
- Resposta limitada a faixas de concentração (tipicamente 10⁻¹ a 10⁻⁶ mol/L).
Aplicações
- Medição de pH em processos industriais, análises laboratoriais e monitoramento ambiental.
- Eletrodos seletivos de íons para sódio, potássio, cálcio, nitrato, fluoreto, entre outros — muito usados em bioquímica clínica.
- Controle de qualidade em indústrias de alimentos e farmacêuticas.
- Sistemas portáteis e wearables para monitoramento fisiológico, como sensores de pH em saliva ou suor.
Os sensores potenciométricos representam a base da instrumentação analítica eletroquímica moderna, servindo como porta de entrada para tecnologias mais sofisticadas. Eles ilustram como um conceito físico-químico simples pode ser traduzido em um dispositivo robusto e útil no cotidiano.
Sensores Eletroquímicos: Amperométricos
Enquanto os sensores potenciométricos medem diferenças de potencial em equilíbrio, os sensores amperométricos operam em regime dinâmico, impondo uma diferença de potencial controlada entre eletrodo de trabalho e eletrodo de referência. Essa polarização força uma reação de oxirredução (redox) do analito, e a corrente elétrica resultante é proporcional à sua concentração.
O princípio básico é dado pela lei de Faraday da eletrólise: \[I = n F A k C\]
- I = corrente medida (A)
- n = número de elétrons transferidos por molécula de analito
- F = constante de Faraday (96485 C·mol⁻¹)
- A = área efetiva do eletrodo (cm²)
- k = coeficiente de transporte de massa (cm/s)
- C = concentração do analito (mol/L)
Em condições controladas (difusão limitada), a corrente atinge um platô característico chamado corrente de difusão. O valor dessa corrente segue a equação de Cottrell para transientes ou de Levich em sistemas hidrodinâmicos. No caso mais simples, em regime de difusão linear: \[I_d = n F A D \frac{C}{\delta}\]
- D = coeficiente de difusão (cm²/s)
- δ = espessura da camada de difusão (cm)
Isso mostra a dependência direta entre corrente e concentração, característica que torna esses sensores altamente quantitativos.
Vantagens
- Alta sensibilidade, chegando a níveis de detecção de nanomolar.
- Rápida resposta, determinada por difusão e cinética de reação.
- Permitem monitoramento contínuo de espécies redox ativas.
- Compatíveis com microsistemas (microeletrodos têm camada de difusão mais fina, aumentando a resposta).
Limitações
- Exigem polarização elétrica e controle rigoroso do potencial aplicado.
- Podem sofrer interferência de espécies redox semelhantes.
- O eletrodo pode ser envenenado ou degradado por subprodutos da reação.
- Requerem eletrônica mais complexa (potenciostato ou circuito equivalente).
Aplicações
- Sensores de glicose (os mais famosos): utilizam a enzima glicose-oxidase que gera peróxido de hidrogênio, oxidado amperometricamente no eletrodo.
- Monitoramento ambiental: detecção de oxigênio dissolvido, nitrito, peróxido, metais pesados.
- Controle industrial: processos de fermentação, tratamento de água e controle de gases tóxicos.
- Dispositivos biomédicos implantáveis: monitoramento in vivo de neurotransmissores, lactato, dopamina.
A grande contribuição dos sensores amperométricos foi abrir caminho para a chamada bioeletroquímica aplicada, unindo enzimas, membranas seletivas e microeletrônica em sistemas robustos — um exemplo emblemático é o glicosímetro portátil, essencial no tratamento do diabetes.
Sensores Eletroquímicos: Impedimétricos
Os sensores impedimétricos distinguem-se dos potenciométricos e amperométricos por não se limitarem à medida de uma corrente contínua ou de um potencial em equilíbrio. Em vez disso, eles analisam a resposta em frequência de um sistema eletroquímico quando submetido a um sinal alternado de pequena amplitude. Essa técnica, chamada Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIS, Electrochemical Impedance Spectroscopy), permite investigar propriedades interfaciais e processos de transporte de massa com alta sensibilidade.
A impedância é definida como a razão entre a tensão aplicada e a corrente resultante: \[Z(\omega) = \frac{V(\omega)}{I(\omega)} = Z'(\omega) + jZ”(\omega)\]
- Z(ω) = impedância complexa
- Z′(ω) = parte real (resistiva)
- Z′′(ω) = parte imaginária (reativa)
- \(\omega = 2\pi f\) = frequência angular do sinal
A resposta do sistema é interpretada por meio de circuitos equivalentes, sendo o mais simples o de Randles, que combina uma resistência de solução (\(R_s\)), uma capacitância da dupla camada elétrica \((C_{dl})\), uma resistência de transferência de carga (\(R_{ct}\)) e um elemento difusivo de Warburg (\(Z_w\)): \[Z(\omega) = R_s + \frac{1}{\frac{1}{R_{ct} + Z_w} + j\omega C_{dl}}\]
Esse modelo mostra como a presença de um analito pode alterar a resistência de transferência de carga ou a capacitância interfacial, modificando a impedância total.
Vantagens
- Altíssima sensibilidade: capaz de detectar mudanças moleculares muito sutis, como a ligação antígeno–anticorpo.
- Método não destrutivo: o sinal aplicado é de baixa amplitude, preservando a amostra.
- Possibilita análise de múltiplos mecanismos (cinética, difusão, adsorção).
- Adequado para biofuncionalização de superfícies: a ligação de proteínas ou DNA em eletrodos funcionalizados causa variações detectáveis em \(R_{ct}\) ou \(C_{dl}\).
Limitações
- Requer instrumentação sofisticada para análise em frequência (gerador de sinal e analisador de resposta).
- Interpretação dos dados depende de modelagem complexa, podendo levar a ambiguidades.
- Mais sensível a ruídos elétricos externos e à estabilidade do eletrodo.
- O tempo de medição pode ser maior, já que envolve varredura de frequências.
Aplicações
- Biossensores de DNA e proteínas: identificação de mutações genéticas, marcadores tumorais, patógenos.
- Sensores de corrosão: monitoramento do estado de estruturas metálicas em ambiente marinho ou industrial.
- Controle de revestimentos e filmes finos: avaliação de barreiras protetoras e camadas dielétricas.
- Nanobiossensores: integração com nanopartículas de ouro, nanotubos de carbono e grafeno, aumentando a área efetiva e a sensibilidade.
Os sensores impedimétricos representam a fronteira entre a química analítica e a engenharia de materiais. Diferenciam-se por não apenas medir a concentração de espécies químicas, mas também por fornecer uma “assinatura elétrica” do processo de interação, o que abre espaço para diagnósticos mais seletivos e multifatoriais.
Sensores Eletroquímicos Baseados em Transistores
Os sensores eletroquímicos baseados em transistores representam uma evolução dos princípios potenciométricos, ao integrar a sensibilidade iônica diretamente em dispositivos de estado sólido. O exemplo mais conhecido é o ISFET (Ion-Sensitive Field Effect Transistor), um transistor de efeito de campo sensível a íons. Ele deriva do MOSFET convencional, mas substitui o eletrodo metálico da porta por uma camada isolante (óxido, nitreto de silício, Ta₂O₅, Al₂O₃, etc.) em contato direto com a solução eletrolítica.
Quando íons interagem com essa superfície, modificam o potencial de superfície (\(\psi_0\)), o que, por sua vez, altera a densidade de portadores no canal do transistor. Assim, a corrente de dreno (\(I_D\)) torna-se dependente da concentração iônica do meio: \[I_D = \mu C_{ox} \frac{W}{L} \left( V_{GS} – V_{th}(pH) \right) V_{DS}\]
- μ = mobilidade dos portadores no canal
- \(C_{ox}\) = capacitância por unidade de área da camada isolante
- W/L = razão largura/comprimento do canal
- \(V_{GS}\) = tensão porta-fonte aplicada
- \(V_{DS}\) = tensão dreno-fonte aplicada
- \(V_{th}(pH)\) = tensão de limiar dependente do pH ou do íon específico
O deslocamento do limiar (\(V_{th}\)) obedece à relação de Nernst, gerando uma variação típica de até 59 mV/pH a 25 °C, semelhante ao observado em eletrodos de vidro, mas em um dispositivo semicondutor integrável.
Vantagens
- Integração em chips CMOS: permite sistemas de baixo custo e alta densidade de sensores.
- Miniaturização extrema: ideal para lab-on-a-chip e aplicações biomédicas portáteis.
- Resposta rápida devido à baixa capacitância e alta sensibilidade superficial.
- Possibilidade de funcionalização seletiva da superfície (DNA, enzimas, anticorpos).
Limitações
- Deriva do limiar causada por cargas presas no óxido e envelhecimento do dielétrico.
- Necessidade de encapsulamento adequado para operação estável em líquidos.
- Sensibilidade limitada por efeitos de dupla camada elétrica e ruído 1/f.
- Requer calibração frequente, principalmente em ambientes biológicos complexos.
Aplicações
- Medidores de pH em estado sólido, substituindo eletrodos de vidro frágeis.
- Biossensores enzimáticos: a reação enzimática altera o pH local (p. ex., glicose-oxidase → variação de pH detectada pelo ISFET).
- Sensores de DNA: a hibridização de cadeias modifica a carga superficial, modulando a corrente do canal.
- Nanotransistores biofuncionalizados (com nanotubos de carbono ou nanofios de silício), ampliando a área específica e atingindo sensibilidade em nível de molécula única.
Esse tipo de sensor ilustra a fusão entre nanoeletrônica e bioquímica, pois explora a física de dispositivos semicondutores para traduzir fenômenos de superfície em sinais elétricos robustos. Hoje, eles já são encontrados em microssistemas descartáveis de diagnóstico rápido (point-of-care) e despontam como a base de futuros implantes inteligentes de monitoramento metabólico.
Comparação Crítica e Aplicações Integradas
Após explorar os quatro principais tipos de sensores eletroquímicos (potenciométricos, amperométricos, impedimétricos e baseados em transistores), é essencial realizar uma análise crítica comparativa. Cada classe de sensor possui vantagens únicas que a tornam ideal para determinados contextos, mas também limitações estruturais que podem comprometer sua aplicação em situações específicas.
Comparação de Princípios e Desempenho
- Potenciométricos: simples, robustos e de baixo custo. São ideais para medições contínuas de pH e íons específicos em soluções diluídas. Entretanto, sua seletividade é imperfeita, sofrem interferências iônicas e exigem calibrações frequentes.
- Amperométricos: muito sensíveis e quantitativos, com rápida resposta e detecção em níveis de nanomolar. São preferidos quando se deseja acompanhar reações enzimáticas ou metabólicas (ex.: glicosímetros). Porém, exigem polarização constante e podem sofrer degradação do eletrodo.
- Impedimétricos: fornecem uma “assinatura elétrica” detalhada do sistema, permitindo detectar não apenas concentrações, mas também interações moleculares complexas. São ideais para biossensores de DNA e proteínas, embora requeiram instrumentação mais cara e sofisticada.
- Transistores (ISFETs e variantes): possibilitam integração em chips CMOS e uso em sistemas lab-on-a-chip. São rápidos, miniaturizáveis e altamente escaláveis, mas sofrem com deriva do limiar, ruído eletrônico e estabilidade limitada em líquidos agressivos.
Critérios de Escolha
- Para monitoramento ambiental contínuo (pH, íons dissolvidos), sensores potenciométricos ainda são imbatíveis em simplicidade e custo.
- Para detecção bioquímica quantitativa (glicose, lactato, oxigênio), sensores amperométricos são a melhor escolha.
- Para diagnósticos de alta seletividade (DNA, marcadores tumorais), sensores impedimétricos oferecem o maior potencial, apesar da complexidade.
- Para integração em dispositivos portáteis inteligentes (wearables, implantes), sensores baseados em transistores trazem vantagens de miniaturização e compatibilidade com microeletrônica.
Aplicações Integradas
Um avanço importante é o uso combinado dessas tecnologias em sistemas híbridos:
- Em lab-on-a-chip, pode-se usar um ISFET para monitorar pH, enquanto sensores impedimétricos detectam ligações biomoleculares específicas.
- Em diagnósticos multiparamétricos, um mesmo microdispositivo pode reunir eletrodos amperométricos para glicose e lactato, junto a impedimétricos para proteínas, fornecendo um panorama clínico completo.
- Em nanobiossensores, a integração com nanotubos de carbono, nanofios de silício ou grafeno potencializa todas essas abordagens, ampliando a área superficial e reduzindo os limites de detecção.
Tendências Futuras
A convergência entre nanoeletrônica, biotecnologia e inteligência artificial está levando a sensores capazes de não apenas medir, mas também interpretar dados em tempo real, abrindo caminho para diagnósticos personalizados e monitoramento contínuo em saúde. Além disso, a escalabilidade dos transistores biofuncionalizados e a sensibilidade da espectroscopia de impedância estão criando a base para implantes inteligentes e sensores vestíveis conectados a sistemas de telemedicina.
Em resumo, a escolha do tipo de sensor não é excludente, mas sim estratégica: muitas vezes, o melhor sistema é aquele que combina diferentes tecnologias para explorar o que cada uma tem de melhor.
Livros gerais sobre sensores micro/nano e eletroquímicos
- Handbook of Modern Sensors, 4ª edição — Jacob Fraden (Springer, 2010)
— Um clássico que aborda ampla variedade de sensores, incluindo princípios de micro e nanosensoriamento. (onlinecourses.nptel.ac.in) - Micro‑ and Nano‑Scale Sensors and Transducers, 1ª edição — E. G. Bakhoum (Taylor & Francis, 2019)
— Foca em sensores e transdutores nas escalas micro e nano. (onlinecourses.nptel.ac.in) - Introduction to Sensors, 1ª edição — J. Vetelino & A. Reghu (CRC Press, 2011)
— Um texto introdutório sobre princípios e tipologias de sensores. (onlinecourses.nptel.ac.in) - Smart Sensors and MEMS, 2ª edição — S. Nihtianov & A. Luque (Springer, 2018)
— Aborda sensores inteligentes e sistemas microeletromecânicos (MEMS). (onlinecourses.nptel.ac.in)
Livros especializados em sensores eletroquímicos e biossensores
- Electrochemical Sensors, presente no catálogo da ScienceDirect (Elsevier)
— Introduz fundamentos da eletroquímica e descreve diferentes tipos de sensores eletroquímicos. (ScienceDirect) - Electrochemical Sensors and Biosensors, 1ª edição — Hasan Bagheri et al. (Elsevier)
— Aborda desde princípios básicos até dispositivos comerciais, incluindo aplicações em saúde, meio ambiente e vestíveis. (Elsevier Shop, MDPI) - Electrochemical Sensors and Biosensors: Green Sustainable Process for Chemical and Environmental Engineering and Science — Neves Cruz et al. (Elsevier)
— Explora desenvolvimentos recentes, materiais, técnicas de fabricação, miniaturização e integração de sensores. (Elsevier Shop) - Electrochemical Sensors, Biosensors and their Biomedical Applications (Elsevier)
— Revisão abrangente de técnicas modernas e aplicação em sensores químicos e biossensores com relevância biomédica. (ScienceDirect) - Nanomaterials‑Based Electrochemical Sensors: Properties, Applications and Recent Advances (ScienceDirect, Elsevier)
— Foca em sensores eletroquímicos baseados em nanomateriais, sua fabricação e aplicações emergentes. (ScienceDirect)
Referências de tipo “handbook” ou compilações técnicas
- Handbook of Nanosensors: Materials and Technological Applications — Gomaa A. M. Ali, Kwok Feng Chong, Abdel Salam H. Makhlouf (Springer, 2024)
— Aborda tecnologias e materiais empregados em nanosensores, bem como suas aplicações em medicina, biologia, meio ambiente e indústria. (SpringerLink) - Handbook of Electrochemistry, editado por Cynthia Zoski (Elsevier, 2006)
— Fonte de referência ampla para fundamentos eletroquímicos, técnicas experimentais e aplicações. (Wikipedia)
Autores reconhecidos com livros relevantes
- Analytical Electrochemistry, diversas edições (a mais recente em 2023) — Joseph Wang (University of California, San Diego)
— Um dos principais textos em eletroquímica analítica com várias edições. (Wikipedia) - Biosensors: Microelectrochemical Devices — M. Lambrechts & W. Sansen (Institute of Physics Publishing, 1992)
— Aborda dispositivos microeletroquímicos aplicados a biossensores. (Wikipedia) - (Contexto histórico) Electrochemical Methods: Fundamentals and Applications — A. J. Bard & L. R. Faulkner (Wiley, 1980)
— Clássico da eletroquímica, frequentemente citado em capítulos sobre sensores eletroquímicos. (SpringerLink)
Resumo das referências
Tema | Título / Autor |
---|---|
Visão geral de sensores | Handbook of Modern Sensors — Fraden (2010) |
Micro/Nanosensores | Micro- and Nano-Scale Sensors and Transducers — Bakhoum (2019) |
Fundamentos de sensores | Introduction to Sensors — Vetelino & Reghu (2011) |
MEMS e sensores inteligentes | Smart Sensors and MEMS — Nihtianov & Luque (2018) |
Eletroquímica básica e sensores | Handbook of Electrochemistry — Zoski (2006) |
Eletroquímica analítica | Analytical Electrochemistry — Wang (2023) |
Sensores eletroquímicos | Electrochemical Sensors ; Electrochemical Sensors and Biosensors (Bagheri et al.) ; Electrochemical Sensors and Biosensors… (Neves Cruz et al.) |
Nanomateriais em sensores | Nanomaterials-Based Electrochemical Sensors |
Tecnologia de nanosensores | Handbook of Nanosensors — Ali, Chong & Makhlouf (2024) |
Biossensores microeletroquímicos | Biosensors: Microelectrochemical Devices — Lambrechts & Sansen (1992) |